domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mãos dadas, por Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista [da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins].
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Referência especial: textos Elegia 1938 e Mãos Dadas, da obra Sentimento de Mundo

Nenhum comentário: