domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mãos dadas, por Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista [da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins].
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Referência especial: textos Elegia 1938 e Mãos Dadas, da obra Sentimento de Mundo

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Visões no Capanema, nos Jardins de Burle Marx
ELEGIA 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro,
fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas por entre os mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho,
dinamitar a ilha de Manhattan
Carlos Drummond de Andrade


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sala Portinari no Capanema






1937
Portinari decide executar os murais do Ministério da Educação em afresco, técnica ainda pioneira no Brasil.

Muitos anos mais tarde, em 1981, Mario Pedrosa escreverá: “Ele não chegou ao afresco por um simples incidente exterior, como se poderia pensar. Não foi o conhecimento dos murais de Rivera ou de seus êmulos no México que provocou no pintor brasileiro a idéia ou a vontade de fazer também pintura mural. Muita gente estranha à sua obra poderá pensar que o muralismo foi apenas um eco retardado do formidável movimento mexicano. Não o foi. Pela própria evolução interior de sua arte pode-se ver que foi por assim dizer organicamente, à medida que os problemas de técnica e de estética nele iam amadurecendo, que Portinari chegou diante do problema do mural. Foi como problema estético interior que pela primeira vez o abordou. Depois das figuras monumentais isoladas e do segundo Café, a experiência com o afresco se impunha naturalmente, como próximo passo. A possante figura em têmpera — a Colona —, feita em 1935 com o Café, do qual é um detalhe, mostra que Portinari queria o plástico monumental”. (28).

Tendo como colaboradores alguns de seus alunos da UDF, Portinari dedica-se aos estudos para os afrescos do Ministério. Recém-chegado ao Brasil, Enrico Bianco, jovem pintor italiano de 18 anos, lhe é apresentado. Apesar de muito jovem, Bianco tivera sólida formação no ofício de desenhista e pintor. É logo notado por Portinari, que o convida para ajudá-lo, em regime de tempo integral.

Até morrer, Portinari terá em Bianco seu mais importante colaborador, que deu sobre o pintor este depoimento: “Conheci Portinari bastante bem, apesar de ele ser um homem bastante fechado. Devo-lhe a minha paixão pelo Brasil. Ele foi, por assim dizer, a ponte pela qual me foi possível atravessar da velha cultura européia para a jovem e tropical cultura brasileira. Portinari era exatamente a síntese das duas, era um nobre florentino nascido no mato, um homem da esquerda que pintava operários vestido com colete de brocado, e ainda assim era profundamente honesto”. (29).

Último acesso:http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/cronobio.pdf">http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/cronobio.pdf

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Villa-Lobos, moderno contemporâneo pós-moderno.

Villa-Lobos deixou-se influenciar por todos até então e influenciou a todos da sua geração em diante, à partir de 1930. Grande pesquisador da música popular brasileira, transformou-a em seus arranjos composicionais em arte genuinamente brasileira e referência para compositores mundiais, do popular ao clássico(erudito,na minha época), do jazz à bossa nova, introduzindo novos elementos ao choro e preparando-o para o samba e seu ritmo marcado.

Grande cabeça iluminada da e na educação brasileira, propositor do canto-orfeônico nas escolas, um novo e elevador elemento instrucional capaz de mexer com a sensibilidade e o fazer nas escolas da época - essas aulas de canto eu tive até os 9 anos, 1978, na Fundação Educacional Machado Sobrinho, colégio que estudei e que completou 100 anos no ano passado. Infelizmente essas aulas foram substituídas por Educação Moral e Cívica, no regime militar, através de decreto.

O motivo do decreto, provavelmente porque seu programa político pedagógico para música nas escolas formavam pensamento de base. Tendo sido comparado por José Celso Martinez Correia um dos maiores encenadores de Brecht no Brasil à Peça didática da Escola Brechtiana de Teatro.

Comentaram a comparação Koudela e Santana(2007),... uma educação política que pratique a educação estética que leve a sério a formação política terá de esforçar-se para ganhar uma consciência capaz de superar a diferença entre a esfera do estético e a do político no seu conceito de cultura,... no qual o ator Mauro Mendonça (2009) ilustra com seu discurso direto e prático, dessa forma: ... logo o Zé Celso Martinez Corrêa também voltaria assim. Era mais um diretor que ia à Europa e vinha doidão de lá. O fato é que todos eles acabavam assistindo ao Berliner Ensemble, da Alemanha Oriental, que fazia teatro social evidentemente marxista, sob o prisma de Brecht, e se fanatizavam pela crítica à burguesia e ao capitalismo. E aí, fazer certos autores criava um tipo de confusão política, estética e artística, inclusive no público e na crítica ( o público não aceitando ser julgado e a crítica julgando contra).

Aliás, estética e política e sua interrelação serão tema da Bienal de Artes de São Paulo para esse ano, mostrando a contemporaneidade e força de um tema que sempre esteve presente no mundo da arte e dos artistas.

Mas voltando à Villa-Lobos, sem dúvida, um gênio da música brasileira e mundial. Quem já o tocou pode dizer que senti-lo nos dedos é ter diversos gênios mundiais da música em acordes. Como em Nesta Rua, A Canoa Virou, O Cravo Brigou com a Rosa e a série Bachianas Brasileiras e o Trenzinho Caipira. E num momento de nostalgia confesso a saudade dos tempos de Conservatório (tempos inocentes) no Estadual de Música Haidée França Americano, onde aprendi a tocá-lo e admirá-lo. Hoje porém, meus dedos destreinados tocam mais é este teclado, nesse momento entre a arte e a política, à favor da educação e da cultura.

Referências:
KOUDELA, Ingrid Dormien & SANTANA, Arão Paranaguá de, Cursos de Arte: novos caminhos. Abordagens metodológicas do teatro na educação in trajetórias Políticas para o Ensino das Artes no Brasil: anais do XV CONFAEB. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, Ministério da Educação e UNESCO, 2009, pág 213.
MENDONÇA, Mauro & Renato Sérgio. Em busca da perfeição. Imprensa Oficial, SP, 2009.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

À luz, educação patrimonial.

Sobre Gustavo Capanema:
MAs o prédio do Ministério da Educação e da Saúde não foi sua única preocupação. Ao ensino, às artes plásticas, à preservação dos nossos monumentos ele deu também o melhor de sua atenção. Não fosse ele o nosso acervo histórico e artístico estaria degredado e Ouro Preto, Congonhas e Olinda etc, perdidos para sempre. A ele que criou o SPHAN e a Rodrigo que tão bem o conduziu coube esse trabalho magnífico, reparando as obras existentes, acabando com a pilhagem que dizimava as velhas igrejas desse país.
Oscar Niemeyer.


Aliás, você já foi a uma igreja pilhada... não queira! Patrimônio Histórico que sofreu pilhagem é a coisa mais triste do mundo, porque o povo enganado acredita que aquilo ainda é memória.

É memória sim, mas memória de engano, de povo ludibriado; de roubo do sagrado, da dignidade do saber. É memória de falta de moralidade!


Registro aqui uma observação positiva: em 2009 o projeto de recuperação de peças sacras, desenvolvido pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e do Turismo de Minas Gerais, foi um dos vencedores do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo IPHAN.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Definição de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para Rodrigo de Mello Franco de Andrade, SPHAN (atual IPHAN), 1937-1968

Todas as imagens fotografadas dessa série são de outubro de 2009, referentes a:
Projeto do Centro Regional de Capacitação em Patrimônio Cultural / Palácio Gustavo Capanema.
Aberto a visitação1936 projeto de Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Carlos Leitão com consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier.
Previsão 12/2010Em 07 e 08.12.2009 visita teste-Em projeto
--Salas de exposições--Espaço para concertos em área aberta-Aprecie--Painéis de Candido Portinari--Jardins de Burle Marx--Pinturas de Alberto Guignard, Pancetti--Esculturas de Bruno Giorgi, Jacques Lipchltz e Celso Antonio Silveira de Menezes
--Salão nobre do 2º andar com 12 afrescos que retratam os ciclos econômicos desde o descobrimento
Previsão:12/2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cabral escorregando na maionese: Palácio Gustavo Capanema e Comitê Olímpico 2016



Foi só isso que pensei quando fiquei sabendo da proposta do governador Sérgio Cabral para o Palácio Gustavo Capanema, no Rio 2016.

Ignorando ministérios, servidores públicos, história e função quis aparecer com o chapéu dos outros. Causando um incidente diplomático com falta de saber democrático e hierarquia federal.

Oferecendo um prédio da União, o qual abriga Ministério da Cultura e Funarte- Fundação NAcional de Arte, Ministério da Educação(REMEC), setores do Iphan e Biblioteca Nacional (setor de registros e direitos autorais) desde há muito.

Provavelmente esse prédio não registra relação direta com o esporte desde que ocorreu o desmembramento da Pasta Esporte do Ministério da Educação; quando o Ministério do Esporte levou para si a responsabilidade até então atribuída à área educacional. Informação que me parece ignorada pelo Excelentíssimo Ministro do Esporte, autor da descabida idéia dada ao governador do Estado do Rio de Janeiro.

Ou seja, ele é um prédio historicamente cultural, com galerias de arte e respira cultura e educação, tendo sido sede do último XV CONFAEB, Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil que reuniu profissionais de todo o país, onde o até então presidente da FUNARTE Antonio Grassi afirmou a necessidade de avançar na construção de um projeto que reaproxime o universo da educação do universo da cultura, texto publicado nos Anais Trajetória e Políticas para o Ensino das Artes no Brasil, através da SECAD - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação juntamente com a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em 2009.

O projeto de 1936 de Le Cobusier para abrigar educação e saúde foi do ministro da Educação Gustavo Capanema que empreendeu um notável trabalho de enriquecimento da educação nacional e trouxe para junto de si grandes nomes da arte brasileira: Portinari, Carlos Drummond de Andrade, Burle Marx, Bruno Giorgio, Villa-Lobos, Oscar Niemeyer, Humberto Mauro, verdadeiras relíquias do patrimônio cultural e memorial e referências na arte-educação no país.

É sabido que fazem dois anos existe uma comissão de revitalização da história deste patrimônio e que tudo ali é tombado: pisos, paredes, móveis, divisórias, elevadores (ah, esses tão pequenos que causariam muitos atrasos às delegações). Nesse momento, alguns cogitam até mesmo em levar a Orquestra Nacional para lá... lugar de onde não deveria ter saído e onde está a maior biblioteca de música do país,...

Li em alguns sites que os servidores não desgostaram tanto da idéia, porque gostariam de trabalhar em melhores condições ambientais e consideram que os R$35 bilhões das olimpíadas ajudariam bastante... mas se estou dando minha opinião acho melhor investir isso na zona portuária, local mais adequado para uma reurbanização, com certeza e de acordo com projetos já existentes.

Agora, uma coisa há de se falar: a União economizou muito com essa mídia e pelo menos agora o carioca vai saber onde é o Palácio Gustavo Capanema, pois por ali, ninguém sabe!!!

...será que o Cabral estava nesse bonde que só se lembrou do prédio na hora de fazer bonito pra comunidade internacional...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Citando B. Capelier(1980) in Païn & Jarreau(1996)

Resume a condição humana em três premissas:
- o homem é este ser que se faz imagem,
- o homem é este ser que se faz das imagens,
- o homem é este ser que faz as imagens.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Por falar em Niemeyer,








Museu de Arte Contemporânea, Niterói.
Fotografo arquitetura.
I LOVE IT!
Eixo de cobertura: raio de 200km de Juiz de Fora.

Contacte-me.
crisfarage@gmail.com