domingo, 22 de novembro de 2009

Ser Mineiro: Em Busca da Perfeição, Café 104, BH.


No dia após o lançamento do livro de Mauro em Belo Horizonte disse-lhe que gostaria de publicar o evento no blog e perguntei-lhe sobre o que dizer. Então, com a sabedoria tão jovem de seus 78 anos ele respondeu com sua voz inconfundível:
- Publique o que quiser. O que der na telha!!


Levei algum tempo para pensar, pois sou mineira e... nem tanto... Não me considero tão bairrista como um bom(a) mineiro(a). Nem critico o bairrismo, pq acho que é ele quem desenvolve comportamentos capazes de lançar-nos ao universal aqui em Minas e no mundo todo.

O que tenho a dizer: foi um encontro mineiro no Café 104, Espaço BMG, frequentado por undergroundies (esse conceito está se tornando cada vez mais obsoleto bilateral - pq indica um pensamento excludente, movido pelo sentido de grupismo e - ainda existe isso na sociedade contemporânea! e como...) na Praça Estação de BH.

Ali estavam frequentadores do Café e convidados: assessores políticos, políticos, banqueiro, uma fã de novela, altíssimas inteligências brasileiras, empresários, desembargador, amigos, mineiros. Uma mistura social, uma rede propícia à inclusão.

Tenho a dizer que quem ali estava presenciou bairrismos e universalidade em respeito às diferenças. Valores positivos que caem muito bem.

Foi um evento tão cordial quanto o próprio elegante anfitrião mineiro ubaense, Mauro Mendonça, detentor do Prêmio Air France, o equivalente ao Molière do cinema, pelo filme “Dona Flor e seus dois maridos”.


Educação, cultura e diversidade, termos amplos e genéricos são os que uso para definir o evento,...como mineira que sou.

Continuando a ilustração:

Minas Enigma

Minas além do som, Minas Gerais
(Carlos Drummond de Andrade)

Se sou mineiro? Bem, é conforme, dona. (Sei lá por que ela está perguntando?) Sou de Belzonte, uai.

Tudo é conforme. Basta nascer em Minas para ser mineiro? Que diabo é ser mineiro, afinal? Inglês misturado com oriental? É fumar cigarro de palha, como o poeta Emílio, de Dores do Indaiá? Autran fuma cachimbo. Tem até quem fume cigarro americano. (No bairro do Calafate havia uma fábrica de "Camel".) Em suma: ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão para não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão em cumbuca. Não dar passo maior que as pernas. Não amarrar cachorro com lingüiça.

Porque mineiro não prega prego sem estopa. Mineiro não dá ponto sem nó. Mineiro não perde trem.

Mas compra bonde.

Compra. E vende pra paulista.

Evém mineiro. Ele não olha: espia. Não presta atenção: vigia só. Não conversa: confabula. Não combina: conspira. Não se vinga: espera. Faz parte do decálogo, que alguém já elaborou. E não enlouquece: piora. Ou declara, conforme manda a delicadeza. No mais, é confiar desconfiando. Dois é bom, três é comício. Devagar que eu tenho pressa.

Apólogo mineiro: o boi velho e o boi jovem, no alto do morro — lá embaixo uma porção de vacas pastando. O boizinho, incontido:

— Vamos descer correndo, correndo e pegar umas dez?

E o boizão, tranqüilamente:

— Não: vamos descer devagar, e pegar todas.

Mais vale um pássaro na mão. A Academia Mineira, há tempos, pagava um jeton ridículo: duzentos cruzeiros — antigos, é lógico. Um dos imortais, indignado, discursava o seu protesto:

— Precisamos dar um jeito nisso! Duzentos cruzeiros é uma vergonha! Ou quinhentos cruzeiros, ou nada!

Ao que um colega prudentemente aparteou:

— Pera lá: ou quinhentos cruzeiros, ou duzentos mesmo.

Quem nasce em Três Corações é tricordiano — haja vista Pelé. Quem nasce em Barbacena tem de escolher a Maternidade: ou é do Zezinho ou do Bias. E a Manchester Mineira, terra do Murilo Mendes? O poeta Nava foi-se embora: "parabéns a Pedro Nava, parabéns a Juiz de Fora". Itabira, calçada de ferro: não aceitou chamar-se Presidente Vargas, continuou digna do itabirano Carlos. E Ouro Preto continua digna de ser vista: ali é a casa do Rodrigo; Renato de Lima, ex-delegado e pianista amador, pintando junto à Casa dos Contos. Afonso é de Paracatu. Em Sabará nasceram Lúcia e Aníbal, além de outros ilustres Machados. Alphonsus, o solitário de Mariana. Os profetas de Congonhas. A cidade de Tiradentes — o que não tinha barbas. O Aleijadinho não tinha mãos. São João del Rei, onde nasceu Otto, o que morrerá batendo papo. Solidário só no câncer? Absolutamente, dona: nas virtudes também, uai. Haja vista a Tradicional Família Mineira, que Deus a tenha. As estações de águas: lembrança de São Lourenço, escrito num copinho. E Lambari, terra de Henriqueta! Monte Santo tem a rua mais iluminada do mundo. E uma ambulância com sirene, que seu filho Castejon arranjou. Itaúna fica num quarto andar do Leblon, no apartamento de Marco Aurélio, o bom. Jeremias, outro bom, mineiro como Ziraldo. Os bonecos de Borjalo só ganharam boca depois que começaram a falar. Mineiro por todo lado! O poeta Pellegrino, como psiquiatra, tem garantida uma numerosa clientela. Amílcar modela Minas em arame. Paulo encontrou Minas depois que saiu de lá. João Leite levou-a para São Paulo, Alphonsus para Brasília, Guilhermino para o Sul. João Camilo ficou. Etiene voltou. Paulo Lima voltou. Iglezias voltou. Jaques voltou.Figueiró continua, Rubião recomeçou.

Um Estado de nariz imenso, um estado de espírito: um jeito de ser. Manhoso, ladino, cauteloso, desconfiado — prudência e capitalização.
O guarda-chuva da proteção financeira, não como lema do Banco do Magalhães mais o Zé Luís, e sim como regra de conduta:

— Meu filho, ouça bem o seu pai: se sair à rua, leve o guarda-chuva, mas não leve dinheiro. Se levar, não entre em lugar nenhum. Se entrar, não faça despesas. Se fizer, não puxe a carteira. Se puxar, não pague. Se pagar, pague somente a sua.

Mas todos os princípios se desmoronam diante de um lombo de porco com rodelas de limão, tutu de feijão com torresmos, lingüiça frita com farofa. De sobremesa, goiabada cascão com queijo palmira. Depois, cafezinho requentado com requeijão. Aceita um pão de queijo? biscoito polvilho? brevidade? ou quem sabe uma broinha de fubá? Não, dona, obrigado. As quitandas me apertencem, mas prefiro bolinho de januária, e pronto: estou sastifeito...

É a hora e a vez de Guimarães Rosa sorrir e dizer pra cumpadre meu Quelemén: perigoso nada, mira e veja, nas Gerais, essas coisas...

Falar de Minas, trem danado, sô. É falar no mundo misterioso de Lúcio Cardoso, Cornélio Pena ou Rosário Fusco, no mundo irônico, esquivo ou pitoresco de Cyro dos Anjos, Oswaldo Alves, Mário Palmério, seus romancistas. E num mundo de gente, seus personagens, que vão de Antônio Carlos a Milton Campos, de Bernardes a Juscelino — vasto mundo! ah, se eu me chamasse Raimundo. Dentro de mim uma corrente de nomes e evocações antigas, fluindo como o Rio das Velhas no seu leito de pedras, entre cidades imemoriais. Leopoldina, doce de manga, terra de meus pais... Prefiro estancá-las no tempo, a exaurir-me em impressões arrancadas aos pedaços, e que aos poucos descobririam o que resta de precioso em mim — o mistério da minha terra, desafiando-me como a esfinge com o seu enigma: decifra-me , ou devoro-te.

Prefiro ser devorado.

"Ser Mineiro" - Fernando Sabino
Último acesso em: 22 de Novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Pérolas: Contos de Minas: Rurais Brasil


...deu vontade de contar minhas andanças atuais,
... como quando uma noite em Dores do Turvo, MG, saí para fotografar uma chuva de vagalumes num campo de vacas, pensando no que fotografaria: /conclusão - nada! Estava muito escuro, os vagalumes piscavam em volta do Bambuzal este, que no outro dia pela manhã fotografei um esquilo, enquanto ia em direção à cachoeira;

Quero contar da árvore com a raiz gigante e abraçada a pedra, de Alto do Rio Doce e também falar dos torresmos sequinhos de Alice, a mesma do pão de queijo...

ou das histórias do Amazonas, contadas pelo mineiro Prof. Wilson, da ECO92, recém chegado da Amazônia, com sua esposa Norminha; onde estava Reitor da Unidade Tefé e Mamirauá.

De Ibitipoca falo Das Noites Brancas e Domingo no fundo da mar, da lareira,... coisa tão pouco lembrada aqui em MINAS e sobre como a acendi e a mantive quentinha,... uma evolução para mim,... uma professora que se mete em arte conceitual para adolescentes...

no Brasil???

EU AINDA EXISTO ?/!!! Penso, logo:

AH!!! tudo muito gostoso aqui em Minas!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lançamento de livro em BH - biografia do ator Mauro Mendonça



Mãos na massa,convite: lançamento do livro de Mauro Mendonça em Belo Horizonte.
Sintam-se convidados, desde já. Estarei lá e esperamos por você.
Se gostarem, repassem para os amigos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Arte: ciência e emoção, pesos e medidas

Uma visão da natureza humana que ignora o poder das emoções é lamentavelmente míope. O próprio nome Homo sapiens, a espécie pensante, é enganoso à luz da nova apreciação e opinião do lugar das emoções em nossas vidas que nos oferece hoje a ciência. ...quando se trata de modelar nossas decisões e ações, o sentimento conta exatamente o mesmo - muitas vezes mais - que o pensamento. Fomos longe demais na enfatização do valor e importância do puramente racional - do que mede o QI (Quociente de Inteligência).Para melhor e o pior, a inteligência não dá em nada, quando as emoções dominam. (Goleman (1995, p. 18)