quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Águas de Março -As chuvas, a casa e o Tom da Mata



A TSUNAMI dos últimos dias na serra carioca deixou-me profundamente triste. Sinto muito pelas perdas de vida que ali aconteceram. Também as perdas materiais, recuperáveis.

São locais em que me acostumei a passar ao longo dos anos e as várias estradas que eu usava para chegar de Minas a Nova Friburgo, desde Itaipava passando por Teresópolis até Mury ou desde Posse, subindo a S. José do Vale do Rio Preto passando pela BR-116 até Teresópolis e chegando até o destino.

Do que se fala nos canais de TV, a culpabilidade dos governos, dos estudos realizados em 2008 sobre as áreas de risco da região serrana e sobre a não inclusão de alguns pontos e a falta de projetos das prefeituras que não possuem técnicos especializados, até a força da natureza. Tudo é muito real e excelentemente abordado.

Falo aqui das minhas impressões e comentários, como a região do Suspiro e sobre o Hotel Itália e teleférico, onde fiquei da última vez que estive em Friburgo. Tudo aquilo já estava ameaçado, mas ninguém acreditava! nem eu! As rachaduras na terra já eram visíveis, mas tudo era acobertado pelo interesse comercial e passava-se como um pouco de fantasia do povo nos rumores de que estava tudo para desmoronar. Inacreditável. Lá também na curva anterior ao Hospital São Lucas, onde houve um grande deslizamento, os barrancos já eram muito visíveis em 2008.

A Serrinha Itaipava.Teresópolis, todos os verões interditada pela queda de grandes barreiras que somente eram removidas e aplainadas e na época seca viravam um pó fino, rosado sem nenhuma contenção, logo acima do Vale de Cuiabá .

Das impressões de viagem nenhuma foi tão forte quanto a primeira vez que passei dirigindo sozinha com meus filhos pela estrada de São José do Rio Preto, justamente contornando as barreiras das estradas, onde ficava o sítio de Tom Jobim e onde e para onde ele escreveu Águas de Março, onde há pedras pixadas reclamando as saudades de Tom... chovia muito, a força das águas eram impressionantes e a altura que o rio atingia provocava tensão. Por diversas vezes corri para viajar antes da chuva para me sentir segura atravessando a ponte da cidade de Rio Preto.

Lá em baixo, entre Posse e Areal, avista-se que a quantidade de garrafas pet na cabeceira do rio é inacreditável! Sempre! Dejetos. Reflexos da falta de educação com ênfase na humanidade. Esse rio que aflue para o Paraíba do Sul, que se vai pelo Pomba e enche minha cidade natal de lama, Cataguases...

Esse ano conheci com um pouco mais de atenção o material do projeto Tom da MAta. Educativo, comunitário. Prontinho pra usar. As verbas federais para o custeio foram usadas.Porém, infelizmente eu não fiz parte do treinamento... mas vi-o distribuído e nada de resultados eu consegui assistir. O projeto é bastante complexo e não foi implementado em nenhum lugar que eu conheça.

Deixo aqui uma sugestão do que um pouquinho já está e pode ser aproveitado quando o período de férias escolares acabarem. Basicamente, todas as escolas que estive e cidades, possuem esse material. Também está disponibilizado na internet.

...contextualizando o sonho da casa própria, dessa vez na serra, misturado ao que fica no nosso imaginário dessa tsunami canalizada, o projeto assim descreve as águas e a mata e a obra clássica de Tom Jobim:

AGUAS DE MARÇO
Durante algum tempo, Tom Jobim mergulhou na leitura da obra de Guimarães Rosa. Foi
da leitura de Grande Sertão Veredas, Sagarana que nasceu Águas de Março. Depois,
quando foi feito o filme Sagarana – o duelo, dirigido por Paulo Thiago e estrelado por Milton Morais, Ítala Nandi e Joel Barcelos, essa canção foi escolhida para ser o tema.A letra dessa canção está mergulhada no clima de construção da casa do sítio, na região serrana do estado do Rio de Janeiro. Tom ficava estudando os usos da madeira, vendo o que era madeira de chão – aquela que está nos esteios dos alicerces – e madeira de vento – aquela que faz a armação dos telhados; madeira de lei, aquela mais resistente, como a peroba do campo e outras menos, como a caingá. De acesso difícil, a estrada de lama era uma armadilha para os carros e para o caminhão que levava o material. Mas Águas de Março também tem outras metáforas.

último acesso em :http://www.tomdamata.org.br/biblioteca/default.

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