quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


TRADUZIR-SE
Uma parte de mim é todo mundo:outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – será arte?
Ferreira Gullar, 1980.
Sobre a poesia de Ferreira Gullar(...)A impostura da poesia relaciona-se com a ousadia e a liberdade. Seu perigo e sua impureza remetem às funções sociais do poeta moderno – indagador, filósofo, profeta – que,muitas vezes, desorganiza o mosaico ao seu redor. A contrariedade do mundo força-o a ser crítico e a fazer de sua criação poética um modo de resistência. Octavio Paz reconhece o mundo heterogêneo e desafiador no qual vivemos, que nos faz buscar o outro, a fim de repensarmos sobre a identidade individual e a imagem social. “A dispersão da imagem do mundo em fragmentos desconexos resolve-se em uniformidade e, assim, em perda da outridade. [...] A outridade é a percepção de que somos outros sem deixarmos de ser o que somos.” (PAZ, 1982, p. 324)(...)
Cimara Valim de Melo, Nau Literária, RS, 2005.

2 comentários:

Anônimo disse...

Viu, te falei que ia passar por aqui, gostei do blog bem legal, beijão,abraços!!!

Anônimo disse...

Foi eu que postei no comentario anterio seu primo rafael chaim, hahahahaha não consegui postar com meu nome, vou acompanhar sempre, beijão.